35 anos depois: a incrível história do reencontro dos irmãos Vera e Manoel através de uma matéria sobre produção de melão num assentamento goiano

Em meio à pandemia de coronavírus, em que o distanciamento social é uma recomendação para conter a covid 19, uma notícia trouxe alegria, alívio e aproximação para duas famílias. Os irmãos Vera Lúcia Augusto Bastos Lima (59) e Manoel Augusto de Bastos (60) se reencontraram após 35 anos sem nenhum tipo de contato.

O elo que fez a ligação entre os dois foi uma matéria publicada em outubro de 2020, no site do Incra e aqui no Blog, sobre a produção de melão da família da Vera, trabalhadora rural assentada em Mundo Novo (GO).

“Nossa! Eu senti alegria e alívio em saber que ele está vivo”, relatou Vera. Ela perdeu contato com Manoel na década de 80, quando moravam no Cuca e o irmão decidiu mudar para Cumaru, ambos locais de garimpo no estado do Pará.

Manoel e a esposa, Maria Edith da Fonseca

Manoel disse que deixou um número de telefone mas perdeu-se. Pra piorar, ele também teve todos os documentos queimados num incêndio após a mudança.

Quando conseguiu um novo registro, anos mais tarde, o nome original havia sido alterado. Esta foi mais uma dificuldade para a irmã localizá-lo. Em meados de 1986, Manoel, já casado, muda-se novamente e deixa o Pará.

Manoel ressaltou que a única preocupação que tinha era encontrar a irmã. “Eu chorava muito vendo o povo na televisão encontrar a família”, lembra.

“Nem que eu tenha que tomar banho de álcool, quero vê-la e dar um abraço enquanto estou vivo”

MANOEL BASTOS

Ele disse que, depois de tanto tempo, quando viu a irmã de novo, por meio de chamada de vídeo por aplicativo, ficou “bobo”, não teve reação. “Demorou para cair a ficha”, relata.

Agora, quer encontrar a irmã pessoalmente. O plano é percorrer os quase 500 quilômetros entre Ceilândia (DF) – onde mora atualmente – e Mundo Novo pra conhecer a família ainda neste mês. “Nem que eu tenha que tomar banho de álcool, quero vê-la e dar um abraço enquanto estou vivo”, enfatiza.

Cenas da primeira conversa entre os irmãos, após 35 anos sem nenhum contato

Busca nas redes sociais e sites de pesquisa levou dois anos

Ruth Fonseca, sobrinha de Manoel e responsável pela pesquisa que localizou Vera Lúcia

No final de fevereiro de 2021, um e-mail chegou para Assessoria de Comunicação do Incra em Goiás com uma mensagem diferente das encontradas normalmente.

Na mensagem, Ruth Gracielly Alves Fonseca pedia o contato de uma assentada – Vera Lúcia – que estava numa matéria no site do Incra. Segundo Ruth, Vera poderia ser a irmã que seu tio buscava há mais de 30 anos.

Ruth contou que há dois anos buscava Vera Lúcia em sites de busca e em redes sociais e nada de resultado. “Cheguei a enviar mensagem para todas as Veras Lúcias do Facebook que encontrei”, lembra.

“Cheguei a enviar mensagem para todas as Veras Lúcias do Facebook”

RUTH FONSECA

A sobrinha disse que via a vontade do tio de encontrar a irmã, mas, percebia a dificuldade dele por não saber ler e escrever bem. “A distância e a dificuldade de comunicação havia separado os dois”, pondera.

Mais recentemente, ela e o marido tiveram que ficar em casa devido à pandemia, então, voltou a buscar pela Vera Lúcia com mais frequência. Foi quando apareceu a matéria do Incra. “Eu li e vi que o nome completo era semelhante, então mandei mensagem para vocês e graças a Deus me responderam”, afirma feliz.

Matéria ‘de rotina’ foi ponte entre os irmãos

Para a autora da matéria original (e da matéria acima) sobre os melões, a jornalista e assessora de comunicação do Incra Goiás, Cristiane Santiago, saber ter sido uma ponte entre eles é ‘uma felicidade’.

“Impressiona também, como um trabalho rotineiro da gente, um texto sobre produção de melão, pode se transformar numa ferramenta na internet e agir num universo que a gente nem imagina”, ponderou.

“É muito emocionante saber que eles vão poder se ver de novo. Quando eu entrei em contato com o filho da Vera Lúcia e soube que ela procurava mesmo pelo irmão, fiquei imaginando como deve ter sido passar mais de 30 anos sem saber o paradeiro de um familiar tão próximo; imaginei a angústia que deve ser, ainda mais num mundo em que a comunicação passou a ser tão instantânea”, relembra.